Parto e poder
a supressão do empoderamento feminino na história obstétrica
DOI:
https://doi.org/10.31416/rsdv.v11i3.549Palavras-chave:
História do parto, Medicalização do parto, Autonomia feminina, Parteiras, Intervenção médicaResumo
O papel e a relevância da mulher na formação da sociedade são frequentemente ofuscados pela presença de uma narrativa patriarcal. Esse apagamento, que é evidente em várias áreas de atuação, como trabalho, educação e política, também se faz presente em histórias específicas das próprias mulheres, como o ciclo de gestação, parto e pós-parto. A partir desse cenário, este trabalho busca traçar uma linha do tempo na história do parto, pontuando o papel da mulher nessa narrativa, examinando como seu lugar foi suplantado pela presença masculina, representada principalmente pela entrada dos médicos na cena de nascimentos. Por meio de uma revisão narrativa, apresenta-se importantes marcos históricos do controle social sobre o corpo feminino, como a descrença por décadas na sua capacidade fisiológica de parir sem intervenções, a epidemia de cesáreas e a recente mudança de consciência em saúde, onde as mulheres estão novamente sendo incentivadas ao parto natural, como melhor escolha, mas não estão sendo preparadas para isso. Por fim, aponta para a importância da preservação do saber tradicional feminino sobre o cuidado como forma de resistência à essa supressão social, a necessidade urgente de uma educação para saúde que prepare física e psicologicamente essas mulheres, assim como equipes capacitadas e humanizadas para condução desses momentos.
Referências
BEAUVALET-BOUTOUYRIE, Scarlet. As parteiras-chefes da maternidade Port-Rroyal de Paris no século XIX: obstetras antes do tempo? Revista Estudos Feministas, v. 10, p. 403-413, 2002.
BRENES, A. C.; A história do parto e seus cuidados. Anais ANPUH - MG, Belo Horizonte, 2002.
BRENES, Anayansi Correa. História da parturição no Brasil, século XIX. Cadernos de Saúde Pública, v. 7, p. 135-149, 1991.
COELHO, Edméia de Almeida Cardoso et al. Integralidade do cuidado à saúde da mulher: limites da prática profissional. Escola Anna Nery, v. 13, p. 154-160, 2009.
COSTA, Ana Cristina Freitas da. Trajetória do parto nas décadas de 70, 80, 90 e século xxi: discursos de mulheres e a construção de práticas. 2018
DINIZ, Carmen Simone Grilo. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciência & saúde coletiva, v. 10, n. 3, p. 627-637, 2005.
HOMEI, Aya. Tempos modernos, novos partos e novas parteiras: o parto no Japão de 1868 aos Anos 1930. Revista Estudos Feministas, v. 10, p. 429-440, 2002.
LUGONES BOTELL, Miguel. La cesárea en la historia. Revista cubana de Obstetricia y Ginecología, v. 27, n. 1, p. 53-56, 2001.
MAIA, Mônica Bara. Assistência à saúde e ao parto no Brasil. Humanização do parto: política pública, comportamento organizacional e ethos profissional [online]. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, p. 19-49, 2010.
MEDEIROS, Raphael Câmara et al. A história do nascimento (parte 1): cesariana. Femina, v. 38, n. 9, p. 482, 2010.
MOTT, Maria Lucia. Parto. Revista Estudos Feministas, v. 10, p. 399-401, 2002.
MUNANGA, Kabengele. Por que ensinar a história da África e do negro no Brasil de hoje? Revista do Instituto de Estudos brasileiros, p. 20-31, 2015.
PALHARINI, Luciana Aparecida; FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. Gênero, história e medicalização do parto: a exposição “Mulheres e práticas de saúde”. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 25, p. 1039-1061, 2018.
PINTO, Benedita Celeste de Moraes. Vivências cotidianas de parteiras e ‘experientes’ do Tocantins. Revista Estudos Feministas, v. 10, p. 441-448, 2002.
ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa. Acta Paulista de Enfermagem, v. 20, n. Acta paul. enferm., 2007 20(2), abr. 2007.
SALIM, et al. Os sentidos do cuidado no parto: um estudo intergeracional. Cogitare Enfermagem, v. 17, n. 4, p. 628-634, 2012.
SERRUYA, Suzanne Jacob; LAGO, Tânia de Giácomo do; CECATTI, José Guilherme. Avaliação preliminar do programa de humanização no pré-natal e nascimento no Brasil. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v. 26, p. 517-525, 2004.
SOBRENOME, A. B.; SOBRENOME, C. D. Nome da obra. Petrolina: IF Sertão Pernambucano, 2016.
TEIXEIRA, Iraí Maria de Campos; OLIVEIRA, Maria Waldenez de. Práticas de cuidado à saúde de mulheres camponesas. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 18, p. 1341-1353, 2014.
TEIXEIRA, Luiz Antônio; NAKANO, Andreza Rodrigues; NUCCI, Marina Fisher. Parto e nascimento: saberes, reflexões e diferentes perspectivas. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 25, p. 913-915, 2018.
THÉBAUD, Françoise. A medicalização do parto e suas consequências: o exemplo da França no período entre as duas guerras. Revista Estudos Feministas, v. 10, p. 415-426, 2002.
TORRACO, R. J. (2016). Writing integrative literature reviews: guidelines and examples. Routledge.
VENDRÚSCOLO, Cláudia Tomasi; KRUEL, Cristina Saling. A história do parto: do domicílio ao hospital; das parteiras ao médico; de sujeito a objeto. Disciplinarum Scientia| Ciências Humanas, v. 16, n. 1, p. 95-107, 2015.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Revista Semiárido De Visu
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.